Vocês viram a dor de cabeça que os Cooper Cobra têm causado a donos de carros antigos: explosões, descamações da banda de rodagem, desestruturações da carcaça. Seja por queda de controle de qualidade, data de validade vencida ou armazenamento precário, a consequência é a mesma: não dá pra acelerar, não dá pra passear, não dá pra viajar. Em resumo, não dá pra confiar mais.
Isso posto, ganhamos outro problema. Que pneus estilosos e razoavelmente bacanas conseguimos colocar em um Maverick, Dodge, Mustang, Opala (“não é muscle car” mimimi hatersgonnahate) ou Camaro? A conclusão deste post pode surpreender alguns desavisados.
Quem é dono de um carro destes sabe que a vida com os pisantes não é tão simples. No Brasil, a oferta de pneus para esta categoria é baixíssima. Você não encontra modelos com as dimensões adequadas, principalmente se a sua ideia é usar pneus mais largos na traseira. Com letrado branco, então, nem pensar. Por aqui, as lojas e fabricantes de pneus estão interessados mesmo é no mercado de tuning, não por uma questão de gosto, mas sim por quantidade: todo mundo tem um amigo (isso se não for o próprio) que tem um carro com rodas aro 17, 18 ou 19 calçadas com pneus largos – mesmo que seja um Celta. Agora, e se o carro for um Maverick ou Dodge?
Fazer o quê? Estes caras dão muita grana para as lojas de pneus: é mais do que justo favorecê-los…
Outro dia, conversei com o dono de uma loja de pneus no bairro da Vila Olímpia, em São Paulo. Perguntei se conseguia encomendar determinado modelo e dimensão de pneu. Disse ele que não, porque cada modelo e medida importado passa por uma série de burocracias, cujo porre acaba não compensando. Pro cara, compensa muito mais vender logo o que ele tem em mãos do que ficar suando para resolver o problema de um ou de outro. Daí você pode se perguntar: posso trazer um jogo de Mashamoto ZX (!) na mala?
Negatoffe. Por restrições do Ibama, particulares não podem importar pneus: apenas empresas cadastradas e que precisam cumprir algumas normas de coleta e destinação final de pneus inservíveis (entenda como uma moeda de troca: traz um novo, recicla um velho), que são fiscalizadas periodicamente. Há alguns anos, alguns malucos até os traziam dentro de malas, mas hoje a fiscalização está rigorosa e não faço ideia do que pode acontecer se você for pego.
Com isso, em tese, estamos presos aos pneus que estão disponíveis em nosso mercado à pronta entrega. “Em tese”, porque há solução para isso – veja mais ao final do post. De qualquer forma, para quem quer o caminho mais fácil e rápido, com garantia contra defeitos de fabricação e fácil substituição, há algumas opções razoáveis na terra da corrupção do samba. Vamos começar?
Opções a pronta entrega no Brasil
Quem procura medidas similares às originais não vai ter tanto trabalho no Brasil, ao menos, se o seu carro for um Charger (brasileiro), Maverick, Mustang, Opala, Camaro e derivados. A maioria deles usava pneus diagonais de aro 14 E70 ou F70, o que dá algo entre 175 e 195/70. Nessa medida, Pirelli, Michelin, Firestone e Goodyear oferecem a linha básica, respectivamente, P6000, Energy Saver, Multihawk e GPS3 – caso do Dodge aí embaixo, que calça 195/70 R14.
Os problemas começam quando você quer dar um toque mais esportivo e quer mais largura. Não importa se é aro 14 ou 15, pneus mais largos no Brasil estão ligados à altura (perfil) mais baixa. E a última coisa que você quer é pneu de perfil baixo em um muscle car, ao menos, em um que não seja do tipo pro touring.
Se o que você quer é um pneu gorducho com aro 15, recomendo que você pule para duas marcas japonesas: isso mesmo! Tanto a Toyo como a Yokohama oferecem seus pneus C.Drive 2 e Proxes TPT nas medidas 215/60 e 225/60 R15, que caem como uma luva nos muscle cars. Veja a foto aí embaixo: o Maverick veste quatro 225/60 R15.
O doce da conversa termina aqui. Quer pneu mais largo que 225/60 R15? Não tem no Brasil, não com este aro ou altura… Só nos temidos Cooper Cobra – com letrado branco, temos também os belos BF Goodrich Radial T/A. Mas o representante oficial só traz medidas altas demais, feita para picapes, com perfil 70 para cima – que vai bem em pneus com até 195 mm de largura. Em pneus largos (de 215 mm pra cima), perfil 70 ou 75 resultam em uma lateral do tipo balão, bom para picapes, péssimo (estético e funcionalmente) para carros. Com sorte, você acha algumas marcas mais alternativas, como os Mastercraft Avenger – que não são referência pra nada. Há também um modelo da Hankook, mas nunca experimentei para falar alguma coisa. O que eu sei é que estes também estão sumindo.
Então, tudo está perdido? Não exatamente.
É possível importar pneus!
Sim, você leu direito. É só encontrar um bom importador, que seja autorizado a trazer os borrachudos e que tenha o saco de fazer os trâmites para isso. Neste aspecto, a America Parts tem resolvido um problemão e tanto dos donos de muscle cars e até de outros antigos. Os caras são especializados na importação de peças para carros antigos e conseguiram a licença do Ibama para importar pneus há uns dois anos. Desde então, aumentou bastante a quantidade de Dodges, Mustangs e outros antigos rodando com os Bf Goodrich. Já não era sem tempo…
Pneus RWL e muscle cars: feitos um para o outro…
Mas é lógico que toda notícia boa precisa vir acompanhada de uma ruim. E neste caso, são duas. Os BF Goodrich Radial T/A são bons pneus de passeio e possuem uma variedade inacreditável de medidas justamente nos aros que mais precisamos (14 e 15), mas… passam muito longe de qualquer aplicação relacionada à performance. O projeto é assumidamente antigo: carcaça old school, flancos macios, banda de rodagem de desenho da década de 1980 e composto que não exatamente representa o estado da arte. São feitos para serem usados com moderação.
Gostou? E daí, não fazem mais…
Essa notícia até que não incomoda tanto. O que preocupa é a outra: os pneus de letrado branco estão deixando de ser fabricados! Há poucos meses nos EUA, você encontrava pneus RWL com os principais fabricantes: o Eagle #1 e o GTII da Goodyear, o Indy 500 da Firestone, o G/T Qualifier da Dunlop… todos entraram em extinção! Até mesmo o mítico diagonal Mickey Thompson Indy Profile SS (foto abaixo) está saindo de catálogo. O motivo é simples: os perfis de muscle cars que interessam pras fábricas de borrachudos são os Pro Touring e os rigorosamente originais, restaurados à perfeição. Os primeiros já usam pneus de perfil baixo, em medidas compatíveis com os carros modernos preparados e tunados, então não muda nada para as fábricas. Para a galera dos originais, a indústria têm oferecido os pneus diagonais corretos de época, feitos com a mesma tecnologia de antigamente e materiais melhores, que custam uma fortuna, mas trazem um bom retorno de imagem para as marcas – justamente porque estão associados a carros históricos impecáveis.
A consequência é que os muscle cars de rua, os mortais, os pontos cinza, estão ficando sem opção de pneus radiais aro 14 e 15 com letrado branco. Ou seja, o problema que afetava os muscles no Brasil agora se tornou mundial! Não há contingente suficiente que viabilize uma produção lucrativa, e como carros antigos rodam pouco, a demanda acaba sendo muito baixa. E no mercado já não há um único pneu de performance de rua que ofereça letrado branco. No mundo inteiro…
O que resta, então?
Além do BF Goodrich Radial T/A, outra marca bastante interessante é a DiamondBack Tires, que utiliza pneus de marcas como a Nitto, Michelin, Firestone e a própria BF e vulcaniza laterais próprias. Graças a estes caras, é possível ter o visual dos cobiçados pneus redline com a segurança de uma estrutura radial. Dê uma olhada na foto aí embaixo.Outra opção bacana são os Mickey Thompson Sportsman S/T. A marca é bastante conhecida entre os fãs de arrancada, o que explica o motivo do menor pneu disponível ser um 235/60 R15 – e o maior, 295/50 R15! Nunca tive a oportunidade de andar em um carro equipado com estes pneus, mas imagino que seja algo próximo ao BF Goodrich Radial T/A em curvas… e talvez com mais aderência nas arrancadas!E… bem, não tem muito mais no mercado, não! Como falei, com sorte você encontra uma ou outra marca “lado B”. Mas honestamente, não me sinto seguro em recomendar uma marca desconhecida no qual eu nunca andei ou sequer tive um feedback.
A conclusão deste post é meio triste, mas é sinal dos tempos: a era dos pneus estilosos e bacanas com aro 14 e 15 está próxima ao fim. Ou você migra para o estilo Pro Touring, de perfil baixo, ou você se conforma com pneus bacanas para passear – mas não invista muito na ideia de vir pendurado numa curva.
Dica: para loucos como eu, que querem um visual “bifudo” e não abrem mão de performance extrema, minha dica são os pneus de track day Nitto NT01 ou Toyo R888, respectivamente nas medidas 245/50 R16 e 255/50 R16. Eu vou nestes últimos. Dê uma olhada nestas rodas de Porsche calçando estas belezuras. Só fique esperto com uma coisa: com sorte e carinho, eles duram 7.000 quilômetros. E o diâmetro total deles é grande, então talvez você precise rebater a aba dos para-lamas.
Fonte:Japolink