662 cv! O Ford Mustang Shelby GT500 2013 é um carro absolutamente insano, essa é a verdade. É uma quantidade absurda de potência, um nível imenso de engenharia, e uma relação preço/potência inigualável. O mais estranho é que minha única reclamação é como tudo isso parece sensato.
Permita-me esclarecer as coisas. Chamar um carro de insano não é um insulto, de modo algum. A quantidade de tecnologia colocada nesse carro é impressionante. O V8 de série mais potente de todos, um novo cardã de fibra de carbono, seis sistemas de arrefecimento independentes, aquele compressor enorme, um conjunto de suspensão muito bem projetado (mesmo que use o velho eixo rígido, do qual falarei mais adiante), consumo razoável, e por aí vai. Muita gente gastou muito tempo na engenharia desta excepcional máquina. Esta não é a parte insana.
A parte insana é a razão pela qual este carro tem tanta engenharia aplicada. Todo esse trabalho, toda a tecnologia e desenvolvimento e testes possuem apenas um motivo: fazer um velhinho feliz.
Nota de esclarecimento: a Ford quis tanto que eu testasse o GT500 que eles me levaram a Atlanta, me colocaram em um hotel opulento de propriedade do cara da Panoz, onde me serviram comida e bebida. Além disso, eles me trataram como se eu fosse muito importante.
O velhinho em questão não era um velhinho qualquer. Era Carroll Shelby em seus últimos anos de vida. Embora não seja a Shelby American quem constrói esse carros, Carroll Shelby estava sempre orientando e conduzindo seu desenvolvimento como uma espécie de guru, um guia espiritual. A Ford apresentou muitos vídeos de Shelby testando o carro, guiando-o há pouco tempo, em abril, quando no alto de seus 88 anos ele chegou a consistentes 257 km/h, contrariando as orientações da equipe de segurança. Também ouvi que sua degeneração macular na época estava tão avançada que ele praticamente só enxergava cores e formas embaçadas – mas era preciso muito mais que uma deficiência visual para impedir aquele homem de dirigir, aparentemente.
A parte mais reveladora do vídeo foi um comentário improvisado que Shelby fez: “as pessoas querem deixar um Corvette comendo poeira na arrancada do semáforo”. Aquilo parecia como mais uma piada de Shelby, mas esta citação é a descrição mais apropriada para o real propósito deste carro. Depois veio a conversa dos engenheiros sobre o trabalho, apresentando o assoalho do carro diante de nós, e cada uma das peças reprojetadas para o novo GT500 estava disposta em mesas de exposição ao redor do grupo.
Mas apesar de todo aquele papo sobre a capacidade do GT500 – da pista de arrancada às ruas – a verdade é que apenas 7% dos proprietários do GT500 farão algo remotamente competitivo com o carro, e esses 7% usarão apenas em uma reta de arrancada. Todas as outras modalidades de competição ou uso amador em pista representam ainda menos que isso. Portanto, toda essa capacidade ficará 90% inexplorada. Os engenheiros da Ford SVT foram bastante francos em relação a isso, admitindo que a maioria dos GT500 vendidos serão carros de garagem que nunca farão nada além de subir giros nos semáforos.
E isso é vergonhoso, pois o carro é altamente capaz. Vamos dar uma olhada nas especificações. A versão de entrada te dá um V8 sobrealimentado de 5,8 litros que produz 662 cv/87,2 kgfm, um diferencial Torsen de deslizamento limitado, caixa manual de seis marchas, um sistema de controle de tração bastante impressionante, e quase todo o resto – dos freios ao cardã – do conjunto mais robusto que você pode imaginar. Há seis sistemas de arrefecimento separados: do motor, óleo, compressor, diferencial, transmissão e o sistema AVAC. O motor esquenta tanto que a colmeia da grade dianteira foi removida pois impedia o fluxo de ar adequado, e acabou dando aquele visual de boca monstruosa que quer devorar os inimigos. O carro pesa 1747 kg, com uma distribuição de peso 56/44.
O visual também entra nessa. A nova dianteira – projetada para puxar ar como um elefante hiperventilando – tem um visual agressivo, com o topo da grade dianteira pronunciado como nos Mustangs da virada da década de 60 para a de 70. O carro é largo e relativamente baixo, com um para-brisa inclinado que me fez bater a cabeça ao sair do carro. O interior é bem legal, com enormes bancos da Recaro e plásticos decentes, embora haja muitos controles compartilhados com carros mais baratos. Há detalhes em alcantara no volante, que dão aquela sensação felpuda e fazem você imaginar a nova experiência de pegada ao volante.
Também é o carro que tem a melhor relação preço/potência. Uma Ferrari de potência equivalente, a 599 GTB Fiorano, custa 2,5 milhões de reais, dinheiro suficiente para comprar cinco GT500 de importação independente. Se você pretende comprar potência por atacado, este é o carro certo.
Mas isso são apenas números. Você quer saber como é dirigir esse negócio. Antes de guiá-lo eu estava um pouco nervoso – qualquer um que não fique ao menos mais cauteloso antes de colocar as mãos no volante de qualquer coisa com 600 cv é um mentiroso ou já está acostumado a isso. Ou as duas coisas. Lembre-se: algumas locomotivas tinham menos potência que este carro. Todos os carros que eu tenho hoje não chegam perto da potência deste. Baseado em minhas experiências anteriores, esperava algo bruto.
Fonte:Japolins